segunda-feira, 28 de março de 2011

Matéria bruta

Dava pra fazer um monumento de mármore à paz, em Lower Manhattan
Com a frieza branca que transborda do peito desses homens
Dava pra reerguer Hiroximas e Nagazakis
Com a força bruta que brota dos braços desses homens
Quando agridem e ferem,
Nas ruas, nos bares, nas lutas, nos lares
Com o fogo que arde nesses homens, derreter-se-iam grilhões e grades
E todo o gelo dessa era glacial dentro de nós
Dava pra construir centenas de milhares de cidades
Nos quilômetros baldios dentro desses homens
Neles abrigar-se-iam meninas chinesas largadas nas ruas
Legadas à morte por inanição
Caberiam os gêmeos, os fisicamente imperfeito, os débeis mentais,
Culturalmente enterrados vivos nas tribos indígenas da América
Caberiam os mendigos e os meninos senis esquecidos
Pela maquinaria construtora da ordem e progresso mundial
Caberiam serenos asilos, com jogos nas calçadas, café com prosa e sorrisos
Caberiam escolas e escolhas que aqui fora já não cabem
Quantas flores e frutos teriam comportado
O espaço improfícuo dos Campos de Auschwitz?
Quanto sangue derramado nos campos de batalha, nas chacinas diárias
Enquanto filas infinitas estendem-se nos bancos de sangue.
Com as mãos que atiram pedras sobre o véu que cobre o corpo
Das mulheres do oriente
Cavar-se-ia a terra, arrancar-se-ia novas fontes
Em cujas águas matariam a sede os sertões
E converter-se-iam Saaras em searas

Vivaldo Simão

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