domingo, 23 de novembro de 2008

AmaranT'e

...e no fim da rua:



O rio !


Vivaldo Simão

Nostalgia de um velho

Recordo meus amigos de criançola...
Ah! Foram tantos! E na minha rua,
Naquelas tardes de brisa tão nua,
Os gudes no “pezin” de castanhola.

Dividíamos nós felicidade,
Tristeza, decepções, sonhos de infância,
Segredos, as primeiras esperanças,
E os primeiros sinais da puberdade.

Mas depois, esta senda foi ficando
No olvido da mudança, para trás;
Muito célere o tempo foi passando...

Só, trilho hoje e estrada com meus ais;
E às vezes digo a mim mesmo chorando:
-“Não seremos aquilo nunca mais!”

Rogério Freitas

Carnaval

Já desperto o sonho de mortos vivos,
Acabrunhados pelo sono em apoteoses,
Fantoches e confetes dão vau à carne.
A felicidade bate à porta
E sem demora, avisa que veio pra ficar.

Edilberto Vilanova

Parto

Este sou eu: alguém que busca.
Ante a hermética face que eu não conhecia
Eis que estou aqui, buscando em mim
Um resquíscio qualquer de poesia

E a poesia, o que é?
Um jorro do magma dos subterrâneos do meu peito?
Uma polaróide do universo exterior filtrado e impresso?

E a poesia, como fazê-la?
Encaro-a, esfinge, sem sabê-la
E ela ri com o canto da boca e diz:
"Decifra-me ou te devoro!":
"A poesia é a pergunta e a própria resposta"
Eis que pari um poema


Vivaldo Simão

Coisa antiga

Nem bem nasci
E já parto

Nem bem nasceu
E já parto

Nem bem nasceu
E já Parto

Minha mãe não tinha noção
De planejamento familiar.

Rogério Freitas

Identidade

Em mim não há idade, nem festa
Em mim não há história, nem fósseis
Em mim não há rótulo, nem sexo
O que está em mim se q u e b r a.

Edilberto Vilanova

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Poema oblíquo

Mim e ti
Largados à míngua
Pagando o pecado
Pelo crime contra a língua


Vivaldo Simão

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Vidente

Vidente, eu morro todos os dias,
A tanger o amargo e irresoluto luto das horas.
Fugidio vejo o abismo e derramo rosas,
Elas escorrem sem perfume
Pelo espelho oco do homem
E onde estão os dias que me fogem?
Onde se escondem as palavras que me sobram?
Procura inútil entre a divisão de mundos.
Onde começa e termina tudo.
Toda morte é por amor, por um punhado
Do pão que nasce e morre todos dias
E a ferida que sangra, pulsa, vibra, devora-se.
Vê-la esvaindo-se e não poder gritar
É rejeitar os trejeitos da dor.

Edilberto Vilanova

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Canção Ébria

Último gole
As coisas todas diáfonas:
Tudo um sonho!

Agora nem pieguices,
Nem dores,
Nem remorsos,
Nem preocupações

Livre de todos os males:
O corpo leve
A mente vaga

Passos descompassados
Entre faróis e buzinas
Pisadas em poças de lama
Tropeços e mais tropeços

O sono pesado,
O desequilibrio,
A queda,
A cama na calçada

Rogério Freitas

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O tempo e a matéria

Um poeta sem matéria
Desfolha a alma,
Flerta o lado torto do verso e espera:
Palavras e resíduos de festas.

Desmaterializado, o verso se industrializa.
Dissimulado, simula o espetáculo,
Encrespa-se, encrava-se e se infesta.
Infestado, imerge e se entristece

E assim, com olhos caleidoscópicos,
O poema, oráculo, copia os séculos
O espetáculo se entardece
E o poeta, binóculos desorbitado,
Decai com a cadência das décadas
E a matéria, já decomposta vira feto,

Enfim, o tempo e o fim.
Descompassado, o poema se emudece.

Edilberto Vilanova

Dois virgens

Um noturno de Chopin,
O vinho tinto,
O aroma da amanhã,
O inceso,
O silêncio
Assentando sobre o quarto
Envolto pela ânsia e a meia-luz

Dois pares de olhos flamejantes,
Hesitantes olhos!
E a brancura dos lençóis:
Oceano insinuante de águas serenas
Nos convida a navegar
Sendo partida e destino um do outro

Agora, a nossa volta ruídos serenos
E a vida que se derrama silenciosa e lenta
Uma brisa se insinua entre as flores
E eu prendo o instante entre os dedos,
Enquanto o tenho junto das mãos
As mãos que são dadas às
E te convidam a provar comigo
A maravilha de viver

Lá fora a cidade adormecida e quente
Parece incapaz
De supor nós dois.

Vivaldo Simão

domingo, 9 de novembro de 2008

Luz

A vela
É vê-la!

Rogério Freitas

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Experimental

Um,
dois,
três

Textando!

Vivaldo Simão

Haikai sem vida

A vergar espinhos
Desabrocho-me em flor,
_Morro sem odor.

Edilberto Vilanova