segunda-feira, 23 de março de 2015

Refração

As linhas que eu escrevo vêm de mim,
É de outros, porém, o benefício;
E não sinto fazendo sacrifício
Se um deserto transformo num jardim.

Não é esta a missão para a qual vim?
Meus males não me são um malefício,
Sei: haveria em mim maior bulício
Se eu não fizesse do lobo um mastim.

Também pintei em telas e mais telas
Meu “eu” total com portas e janelas
Abertas para um deserto em miragem,

Mas ao ver todo o trabalho impreciso,
Quebrei tudo e, ao contrário de Narciso,
Odiei também minha própria imagem.

Rogério Freitas

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