quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Prece pagã 2

Senhor,
 conceda-me a graça de ser tolo e manso
como um bicho que pasta na linha do tiro
ignorante da eminência da morte
dá-me a mudez ou a prisão
de dizer não ao sim e sim ao não
quando meu coração quiser falar
permita que eu seja cego
quando meus olhos indigestos já de tanto horror
provarem novamente esse banquete
de imundície humana cotidiana
que eu seja submisso e burro
como as donzelas dos séculos perdidos
à espera de um amor forjado
pela tradição
só assim serei então
debilmentalmente feliz
e abrirei os dentes
extasiado pelo gozo de ser igual
às  doces crias do meu tempo.

Vivaldo Simão

Um comentário:

  1. Muito bom, poema, meu amigo Vivaldo. Sua linguagem é sem dúvida uma das mais belas entre nós.

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