domingo, 14 de dezembro de 2008

Estiagem

O beijo se desfez.
De resto sobrou apenas
Um pano bordado
E a cor da chita
Se espalhando por toda a casa,
Um mosaico encantado
E um canto nostálgico
Pulando do pé de juazeiro
Angico ligeiro, que dirá desse
Amor que acabou?
Que vento passou por aqui
Que derrubou o velho umbuzeiro?
E esse azedume que levou
Todo o doce de todo mel
Dessa última safra
Quem chorou no fim do inverno?
Quem disse adeus?
E a roupa dele, quem lavará?
Quem fará as costuras
Que estão faltando na velha roupa?
Ela, que já se acostumara com a lágrima
O viu chorar
A zabelê de olhos anil se cansou da fuga
Cessou o cantar
E agora, entorta as costuras
A outra, com lábios corrosivos,
Corroeu o que ainda restava desse amor
O beijo se desfez, as bocas estão bordadas.

Edilberto Vilanova

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