Vorazes e alheias ao corpo
Balas de metal cortam a avenida
Criam um mar sobre nossas cabeças
E um túmulo sobre nossos pés
No asfalto, pequenas flores murchas
Termicamente invertidas, agonizam
Sobrevivem aos tragos de minerais e gáses enfurecidos
É o desatino exato da prole do inseto
Que formula seu próprio inceticida
Acedam incensos para a morte
Que na metrópole ninguém chora
Ou será que ninguém ama?
Estamos no fim dos tempos
É a evasão total do amor
Uma vez província sempre província
A louca da esquina queria saber
Porque o jornaleiro se matou
Será que nos jornais não há mais palavras de amor?
Acedam incensos para morte que na metrópole ninguém chora
Tumulto!
Abalou-se a avenida central
O que foi?
Foi suicídio
Ele envenenou-se com fumaça
E morreu asfixiado
Automóveis movem a morte
Há árvores mortas na calçada
Há canções mortas seguindo o cortejo
Há jornais sobre o corpo do jornaleiro
Edilberto Vilanova
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